Matéria publicada em 16/07/2020
Na manhã desta quinta-feira (16) a Universidade Positivo promove, por meio de reuniões que acontecem de 10 em 10 minutos, a demissões de dezenas de professores, até o final desta manhã o Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana (Sinpes) recebeu a informação de que cerca de 50 docentes tinham sido despedidos. A UP esperou a data limite para os docentes entregarem as notas dos alunos, cujo prazo foi a noite desta quarta-feira (15), para divulgar a lista de demitidos. Informações repassadas ao Sinpes destacam que já haveria uma lista com muitos nomes a serem desligados. Hoje, a informação se confirmou e dezenas trabalhadores passam agora a engrossar as estatísticas de desemprego no Brasil.
As demissões se deram em diversos cursos, tanto nos presenciais quando nos EAD. Informações repassadas ao Sinpes dão conta de que na graduação de Biologia 07 professores foram desligados, em Medicina também 07, 04 em Psicologia, 03 em Engenharia, 02 em Direito, 02 em Publicidade e Propaganda, 01 em Design e todos os professores do curso de Educação Física. As despedidas, no entanto, devem continuar acontecendo ao longo do dia conforme destacam docentes e alunos.
A maioria das demissões é resultado da extinção de cursos de licenciatura na modalidade presencial. A Universidade Positivo não oferecerá mais, segundo informações repassadas por professores ao sindicato, aulas presenciais nas graduações de Ciências Biológicas, Educação Física, Pedagogia, Química, Matemática e Física.
Os desligamentos afetaram gravemente a comunidade acadêmica gerando um misto de pânico e decepção entre alunos e professores. O Centro Acadêmico de Ciências Biológicas (CacBio) destaca que hoje é um dia de grande tristeza para aqueles que são ligados à Universidade Positivo. “A UP tem demitido, desde as 8h30 da manhã, diversos professores sem nenhuma explicação. No meio da pandemia estamos sem informações, no escuro, nosso curso deve ser cancelado. É um dia muito triste e nos sentimos extremamente abalados. Há alunos com mais de 80% do curso de Biologia já concluído, existem estudantes fazendo trabalho de conclusão de curso. E agora?”, questiona o CacBio. Somente na licenciatura de Biologia cerca de sete professores formam demitidos.
Comprada pela Cruzeiro do Sul Educacional em dezembro de 2019, quando à época tinha cerca de 1,600 empregados e 33 mil alunos, a Universidade Positivo projeta hoje a sombra da mercantilização do ensino promovida por grandes conglomerados educacionais. As mudanças, aos poucos implementadas na universidade pelo grupo, que hoje é o quinto maior da educação privada no país, têm se refletido em constantes demissões, em redução de carga horária de professores e no fortalecimento da modalidade Ensino a Distância.
No início de julho, diversos coordenadores de cursos foram demitidos depois de passarem por uma reunião de cerca de 5 minutos na qual foram informados de seu desligamento. Uma das despedidas foi a Coordenadora do Curso de Biologia da Universidade Positivo, a professora Ana Meyer.
A grande quantidade de demissões na UP é reflexo da mercantilização do Ensino a Distância que é hoje a menina dos olhos dos “barões da educação”. Cursos de graduação presenciais podem ofertar até 40% das aulas a distância, o limite anterior era de 20%. É isso que determinada uma portaria publicada pelo MEC no final de 2018. Grande grupo educacionais como a Cruzeiro do Sul tem se valido dessa portaria e imposto mudanças na matriz curricular dos cursos na tentativa de reduzir custos e aumentar lucros. A UP pretende implementar, até 2021, uma nova matriz curricular que fortalece o EAD. Com ela, a instituição não ofertará mais cursos totalmente presenciais, ou seja, quase metade das aulas serão à distância. Com isso professores perdem emprego, já que a demanda por mão de obra docente diminui.
No horizonte de medidas que podem ser adotadas pelo SINPES está a possibilidade de ações coletivas para caracterizar a demissão em massa, ampliando as denúncias já encaminhadas ao Ministério Público do Trabalho com pedido de mediação. Além de prosseguir mobilizando professores e alunos, principais prejudicados com as medidas adotadas, no sentido de reverter esse panorama.
A reforma nas leis trabalhistas fez com que a precarização das relações de trabalho se tornasse mais aguda e o sucateamento das condições de trabalho, redução de horas-aula e alterações curriculares sem consulta aos alunos e corpo docente são apenas alguns dos mecanismos utilizados na direção de um profundo rebaixamento na qualidade das Instituições de Ensino.
As despedidas em plena pandemia demonstram o elevado grau de cinismo e a desumanidade que campeia as cúpulas dos empresários da educação que se aliaram com operadores do mercado financeiro.
A luta pela educação de qualidade está apenas começando.
O SINPES se solidariza com os docentes e lhes garante que utilizará de todos os mecanismos legais e sindicais para garantir os seus direitos de forma coletiva.
|