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Curitiba, 24 de abril de 2024.
 
Respostas às questões enviadas ao Sinpes pelos alunos do Unicuritiba

Resposta do Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana -SINPES às questões enviadas pelos alunos do Unicuritiba.

 

Senhores Estudantes Presidentes das Entidades Estudantis DACP / CARI / CDE (Unicuritiba)

 

 

Curitiba, 22 de junho de 2020.

 

Legitimado em assembleia realizada em 18 de junho do presente ano, pelos professores do UniCuritiba para representá-los junto ao Grupo Ânima, e em atenção ao Ofício n. 9/2020/CARI/DACP/DCE, o Sindicato dos Professores do Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana – SINPES, vem a público esclarecer o posicionamento dos  docentes do UniCuritiba, como segue:

O corpo estudantil busca compreender a percepção do corpo docente do Unicuritiba a respeito da implementação do modelo pedagógico de unidades curriculares (UCs) apresentado pelo Ânima. Para tanto, os Diretórios Acadêmicos formularam questionamentos, os quais são respondidos na sequência.

 

–      Há concordância dos Professores acerca da Instituição de Unidades Curriculares?

O SINPES esclarece que os professores foram surpreendidos com a iminente implantação do novo modelo sem que a esmagadora maioria dos professores sequer tivesse conhecimento ou sequer tivesse sido consultada acerca das mudanças.

Esclarece, por transparência, que alguns poucos professores, conjuntamente com os Coordenadores do Curso de Direito, participaram de três encontros com a Ânima, no que parecia ser uma conversa preliminar sobre eventuais mudanças, porém nunca tiveram acesso à integralidade do projeto. A todo o tempo foram informados de que se tratava de um projeto que não seria implementado agora. A esmagadora maioria dos professores que ministram os conteúdos, atualmente, não participaram de qualquer debate e a eles está sendo imposta uma nova matriz, composta pelas tais Unidades Curriculares (UCs), sem consulta, participação ou qualquer contribuição daqueles que efetivamente terão que trabalhar com as UCs. Por isso, não há concordância dos professores uma vez que as mudanças foram implementadas à revelia dos docentes.

–      Há concordância dos Professores com a redução do conteúdo ministrado nas disciplinas atualmente, para com a proposta que se pretende implementar?

Quanto a este item, esclarece-se que o projeto completo das mudanças e a realocação dos conteúdos das disciplinas nas UCs nunca foi apresentado aos professores de maneira clara, ou seja, não foi dada oportunidade para que os professores estudassem e entendessem essas mudanças. Como dito acima, apenas pouquíssimos professores participaram de conversas iniciais sobre a sistemática.

No entanto, a título de exemplo, a UC denominada Estado, Política e Direito que possui a carga horária de 120 horas em sala de aula, segundo o Ânima, contemplaria todo conteúdo que até hoje é ministrado em Ciência Política, Direito Constitucional I, II e III. Ou seja, com a implementação das UC as aulas presenciais que, hoje, totalizam 288 horas de conteúdo em Ciência Política e Constitucional, cairá para 120 horas, em inegável prejuízo à formação dos alunos. Situação semelhante ocorre com Processo Civil que compreende, hoje, 360h, porém passará a ficar limitado a 120 horas.

A diminuição da carga horária relaciona-se à ideia de que cada UC será trabalhada como um conjunto de saberes, em algo que o Grupo Ânima chama de “busca ativa”. Na proposta, o aluno poderá cursar qualquer UC, de qualquer curso, sem a necessidade de comprovação de pré-requisitos. Isso gera distorções e inegáveis prejuízos. Toma-se novamente um exemplo no Direito. O aluno que começar cursando a UC correspondente a Direito Penal nunca terá ouvido falar do princípio constitucional da legalidade, da competência da União para legislar em matéria penal; o aluno que cursar primeiramente a UC correspondente a Constitucional, efetuará abordagem extremamente superficial das ações de controle de constitucionalidade, já que nenhum conhecimento terá de processo civil para compreender questões afetas a tal controle e nem mesmo terá a compreensão de conceitos básicos do Direito, como hierarquia da norma, trabalhados em Teoria Geral do Direito. Tais exemplos são tomados na ciência do Direito, porém são válidos para todos os cursos de nosso Centro Universitário, já que tal modelo de UC será implementada de modo geral.

Não fosse isso, hoje a semana de aula possui 20h/aula, sendo 4h/aula por dia, de modo que, com a proposta, haverá redução para 12h/aula por semana (redução para apenas 60% do que é praticado hoje).

Some-se a este cenário, o fato de que, no curso de Direito (usado novamente como exemplo) as apenas 17 (dezessete) UCs, serão concluídas no oitavo período (na perspectiva de trabalho de 2 UCs por semestre, como proposto pelo Ânima), restando apenas uma UC para o nono período. Ou seja, o nono e décimo períodos praticamente não teriam aulas presenciais.

De qualquer forma, há grande preocupação por parte dos professores no sentido de que os cursos percam em lógica e organicidade. Por isso, não há concordância dos professores.

–      Os Professores entendem que há possibilidade de perda de qualidade no modelo proposto de UCs?

No tocante a esta questão, tome-se como exemplo a UC “Globalização e Estratégia”, prevista para o próximo semestre (agosto/2020), para os calouros do Curso de Relações Internacionais e alguns dos novos cursos oferecidos pelo Ânima, assim como para os alunos que atualmente concluem o primeiro semestre do Curso de Relações Internacionais. Nesta UC os alunos serão confrontados com problemáticas típicas do final do século XX e século XXI sem, portanto, conhecerem a natureza do capitalismo, a estrutura mundial do capitalismo e a diferenciação entre economias desenvolvidas e subdesenvolvidas, a divisão internacional do trabalho, os regimes e teorias sobre o comércio internacional, os fluxos internacionais de capitais e suas origens. Ora, a história é sabidamente um poderoso instrumento do conhecimento científico sobre as sociedades contemporâneas. As UCs, tal como propostas pelo Ânima, parecem desconsiderar os vínculos orgânicos que existem entre o presente e o passado.

Portanto, da forma como imposto, sim, há possibilidade da perda de qualidade da formação acadêmica no modelo proposto pelo Ânima. Contudo, entende-se que nada existe que não possa ser aperfeiçoado.

A excelência, tradição e respeito por alunos e professores, características que sempre estiveram presentes nos cursos do Unicuritiba, se ainda respeitadas pela mantenedora, deveriam nortear um comportamento diverso do que vem sendo adotado. Mudanças de tal envergadura requerem ampla participação e amplo tempo de debate por parte da comunidade de professores e alunos. Uma mudança desse calibre deve ser abraçada por todos os atores institucionais.

Como dito anteriormente, nas três reuniões realizadas com coordenadores e pequeno grupo de professores, em tom conciliador o Ânima havia dito que aquele conteúdo estava sendo “sugerido” para as UCs e que nada era definitivo, sempre reiterando que novas discussões aconteceriam e sem jamais dar margem a qualquer sugestão de alteração da ideia ali apresentada. Consigne-se que não houve qualquer treinamento ou orientação específica para trabalho com o modelo de UC. Como dito, foi apenas em 10 de junho que os professores foram comunicados acerca da imposição de trabalho com unidades curriculares. Mas, até o presente momento, não houve mais nenhuma outra reunião para discutir o modelo, a estrutura e o conteúdo das UCs e nenhuma espécie de feedback, vindo, na última semana, a notícia acerca da imposição de tal modelo, em meio às dificuldades naturais das aulas em ambiente virtual, da impossibilidade de reuniões presenciais e quando alunos e professores encontram-se em isolamento social decorrente das medidas de proteção contra o covid-19, o que por si só dificulta, inclusive, insurgências e oposições ao que se impõe.

–      Caso a resposta anterior seja positiva, os professores entendem ser possível cumprir as diretrizes do Ministério da Educação no modelo até então praticado, com a execução de horas de extensão sem perder a qualidade de ensino?

Quando do advento dos normativos do MEC, ocorrida antes mesmo da assunção do grupo Ânima, o colegiado do Unicuritiba composto por todos os professores e, inclusive, por representantes do corpo discente, já vinha discutindo o aumento de atividades de extensão, bem como a implementação de atividades necessárias ao cumprimento das diretrizes do MEC.

Não há obstáculo algum à execução das diretrizes do MEC no modelo até então praticado em nossa instituição. Aliás, tais atividades já compõem, em boa parte, o dia-a-dia acadêmico-institucional. Basta verificar, a título de exemplo, que o Unicuritiba possui grupos de pesquisa em número maior do que a soma dos grupos existentes em todas as outras faculdades do grupo Ânima.

Ou seja, mostra-se perfeitamente possível cumprir as diretrizes do MEC sem sacrificar a qualidade do ensino atualmente praticado em nossa instituição.

Consigna-se, por fim, que a entidade sindical, subscritora, discutiu com os professores, em assembleia da categoria realizada na quinta-feira (18/06/2020), acerca do tema “UCs”, tendo extraído informações para produção da presente resposta a partir das manifestações e participações dos presentes.

No mais, o Sinpes reitera as considerações e estima pela representação estudantil!

 

 Valdyr Perrini

                                

                                                                                   Presidente do Sinpes                                 

 

                       Sindicato Dos Professores Do Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana