O Sindicato dos Professores do Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana – SINPES vem a público manifestar seu repúdio diante dos atos de intolerância e violência observados em instituições de ensino de Curitiba depois das eleições do último dia 30/10.
Entre os episódios registrados, está o que aconteceu em um dos colégios mais tradicionais de Curitiba. Vídeos que circulam em redes sociais mostram centenas de estudantes do Colégio Santa Maria, integrante da rede Marista de Colégios, reunidos no pátio da instituição no último dia 31/11. Vestidos nas cores da bandeira nacional, eles cantaram o hino e gritaram palavras de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Ao mesmo tempo, hostilizaram com palavras de baixo calão um pequeno grupo de alunos que se manifestava a favor do presidente eleito, Lula (PT). Pais revelaram que seus filhos foram agredidos com chutes e cuspes.
Professores e professoras também foram vítimas da fúria dos adolescentes que viraram as cadeiras e as costas a docentes considerados de “esquerda” durante as aulas, no dia seguinte à eleição.
Em nota à imprensa, o colégio disse que “está atento aos movimentos e repudia quaisquer atitudes ou comportamentos que incitem todos os tipos de violência, seja ela simbólica, verbal, psicológica ou física”.
Coincidência ou não, por ocasião da campanha unificada entabulada pelo Sinpes e pelo Sinpropar para fixação do reajuste salarial da CCT 2022/2023 (ainda pendente no âmbito do Ensino Superior) no Colégio Santa Maria, o caminhão das entidades sindicais foi mal recebido. O Caminhão de som, as reivindicações e as lideranças sindicais foram vistos com simpatia pela grande maioria de alunos e pais de alunos das instituições de ensino superior, médio e fundamental de Curitiba e Região Metropolitana. Entretanto, na frente desse estabelecimento de ensino marista alguns pais indignados atribuíram ao veículo das entidades sindicais a responsabilidade pelo congestionamento provocado por um semáforo situado há anos na esquina da Rua Mateus Leme e agrediram com socos a lataria do caminhão.
Outro evento da mesma natureza aconteceu no Colégio Positivo Ângelo Sampaio, onde alunos de verde e amarelo estenderam bandeiras do Brasil e gritaram “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão”.
De acordo com a direção do Colégio Bom Jesus, alguns alunos foram suspensos por pegar a toalha com estampa do PT de um colega e urinar nela.
Além dos corredores dos colégios particulares de Curitiba, os estudantes interagem em grupos de WhatsApp intitulados “Geração Verde e Amarela”. “Quem vai ser o herói que vai matar o Lula [?]”, escreveu um dos participantes. “A 12 do meu pai chegou sexta-feira kkk“, dizia uma mensagem. “Vou atirar em feminista”, afirmou outra.
Em relatos também publicados nas redes sociais, pais disseram que foi necessário escoltar os filhos na saída de outros colégios da capital, porque havia protestos de estudantes bolsonaristas e alunos que declararam voto em Lula corriam risco de serem agredidos.
O Sinpes lamenta que o clima de ódio, desrespeito e intolerância tenha se instalado também no seio escolar. A demonização dos que pensam “diferente” é fruto de intenso trabalho dos grupos antidemocráticos que apoiam o atual presidente e pregam o desejo de morte e de exclusão de estudantes, familiares e da maioria da sociedade que não comunga com suas convicções.
Na visão do sindicato os Maristas, Franciscanos e o Colégio Positivo deveriam aproveitar esses sinais de intolerância para meditar sinceramente acerca da distância amazônica que vem se evidenciando entre a teoria e a prática dos valores que dizem sustentar tanto no que se refere ao trato com os estudantes quanto com os professores!
Além disso, os estabelecimentos de ensino em que se verificaram atos de intolerância e violência precisam apurar e responsabilizar seus autores por atos de violência física e verbal.
Um exemplo de punição aconteceu no Colégio Porto Seguro, na cidade de Valinhos, em São Paulo. Lá, a direção expulsou oito alunos que criaram um grupo no WhatsApp onde compartilhavam mensagens de cunho racista, homofóbico, gordofóbico e nazista. O grupo teria sido criado depois das eleições do dia 30.
Para o Sinpes, é inadmissível a convivência com atos de agressão e violência, em especial, quanto tais atos e agressões envolvem diretamente as instituições de ensino a quais devem educar para a liberdade, para a defesa da pluralidade e para o fortalecimento da democracia. Afinal, atos e comportamentos de violência servem apenas para ampliar a violência instalada no país – que se acirrou durante o pleito deste ano – e afrontar o estado democrático de direito que garantiu eleições limpas e justas nas quais a maioria dos eleitores pôde expressar sua vontade.
Diretoria do Sindicato dos Professores do Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana – SINPES
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