A direção do Grupo Ânima Educação, gigante do setor privado, que comprou recentemente o UniCuritiba e a UniSul (SC), deu início, na última semana, período em que os professores encontram-se em quarentena por conta da pandemia do COVID-19, a uma série de reformulações nos currículos dos cursos já existentes nas duas Instituições acima referidas.
As informações foram repassadas ao Sinpes por docentes da instituição e revelam que o Ânima pretende unificar os currículos de todos os cursos em todas as unidades do Grupo no Brasil, com a participação – via remota – dos professores dos Núcleos Docentes Estruturantes (NDE) dos cursos, implementando um processo de massificação de ensino capaz de desfigurar a forma clássica de transmitir conhecimentos, marca individual consagrada pelo Unicuritiba.
O Ânima possui unidades nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Santa Catarina e Paraná e conta com um quadro de cerca de 8 mil empregados.
O que o grupo pretende não é mera unificação curricular, mas a construção de currículos novos e fortemente descaracterizados. A ideia é oferecer muitos cursos (há rumores que o UniCuritiba ofertaria cerca de 40 cursos a partir de agosto deste ano), de modo que haja inúmeras disciplinas em comum. Assim, cursos com relativa interdependência, como por exemplo, Economia, Administração, Gestão de Negócios, Relações Internacionais e Comércio Exterior, seriam oferecidos sem a preocupação com um número elevado de alunos matriculados (por exemplo: 15 estudantes). As disciplinas em comum teriam, nesse caso, 75 alunos (15 x 5). Essa aglutinação de disciplinas garantiria lucratividade mesmo com reduzido número de acadêmicos em cada curso.
Depois da unificação dos currículos, tudo indica que o Ânima pretende explorar ao máximo os 40% de EAD permitidos pela legislação. Deste modo, a disciplina de “Relações Internacionais Contemporâneas”, que poderia facilmente pertencer aos cinco cursos citados acima, seria ministrada em EAD. Como se trata de ensino a distância, com a unificação de currículos um único docente poderia se responsabilizar pela disciplina em todos as unidades do Grupo. A ideia seria reduzir de modo significativo o número de docentes (e seus custos relativos) e compatibilizar lucros estratosféricos com redução nas mensalidades.
Nas mãos do capital, a educação e a formação dos brasileiros estão sendo convertidas em uma máquina simplista de reprodução de valor excedente (lucros). Ações como as do Ânima intensificarão a concorrência entre as Instituições de Ensino Superior, levando à centralização da Educação Superior nas mãos de grandes grupos de interesses privados.
As tratativas iniciadas recentemente para a reformulação dos currículos dos cursos têm despertado os professores mais ingênuos da Instituição em relação ao engodo retórico dos novos donos do UniCuritiba, segundo os quais as reformulações estruturais desejadas tinham por objetivo a preservação da excelência do ensino.
O Sinpes entende que se o Grupo Ânima efetivamente desfigurar a atuação do Unicuritiba, apostando na precarização do ensino e na lucratividade ilimitada, estará dando verdadeiro tiro no pé. Colocar essa tradicional Instituição de Ensino Superior na vala comum da massificação de ensino, eliminando sua atuação diferenciada e personalizada, marcas adquiridas por décadas de trabalho comprometido de seus professores, certamente ensejará o afastamento de sua clientela tradicional com os prejuízos morais e materiais daí decorrentes.
O Sinpes entrou em contato com as assessorias de imprensa do Grupo Ânima, do Unicuritiba e também da UniSul na tentativa de ouvi-los sobre os fatos trazidos na matéria, porém, até a publicação da mesma, não havíamos recebido resposta.
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