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Curitiba, 25 de abril de 2024.
 
Dia Internacional das Mulheres – Mulheres no Ensino Superior: Maioria nas salas de aula, minoria no corpo docente

08/03/2023

A história das mulheres no ensino superior no Brasil começou no final do século XIX com a matrícula de Rita Lobato Velho Lopes na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Problemas familiares obrigaram-na a se transferir para Salvador. Seu pai matriculou-a no 2º ano da Faculdade de Medicina da Bahia, em 1881, onde terminou seu curso com a seguinte observação: “primeira mulher diplomada em Medicina no Brasil, 1887”. O acesso e a permanência das mulheres neste nível de ensino, entretanto, foram sendo ampliados de maneira bastante lenta.

Mais de um século depois e as mulheres são hoje maioria no ensino superior do país. É isso que revela a pesquisa “Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no primeiro semestre de 2021.

As mulheres brasileiras são mais instruídas que os homens e com mais acesso ao ensino superior. Porém, são minoria entre docentes em instituições desse tipo de ensino.  Em 2019, elas eram 46,8% do total de professoras/es lecionando em cursos de graduação.

E o quadro é o mesmo na pós-graduação. O número de docentes em especializações, mestrados e doutorados mais do que dobrou no Brasil desde 2004. Mas a proporção de mulheres contratadas para lecionar segue desigual e praticamente estagnada desde então, apesar de elas serem maioria entre os estudantes também nos cursos de pós.

De acordo com dados levantados pelo jornal Folha de São Paulo, o país tinha 33,5 mil docentes contratados para atuar na pós-graduação em 2004. As mulheres representavam apenas 4 em cada 10 docentes (37,6% do total). Já em 2019, conforme o levantamento, as mulheres eram 49% dos 69 mil docentes. Em 2004, mais da metade entre mestrandos e doutorandos do país eram mulheres (52%). Em 2019 elas representavam 54,5%.

Mas, porque as mulheres, mesmo sendo maioria nas salas de aulas de faculdades e universidades do país, ainda são minoria no corpo docente de instituições de ensino superior?

“Isso acontece porque as mulheres são prejudicadas em processos de seleção, justamente por serem mães, chefes de família. Vários elementos dificultam sua contratação e eles têm relação com gestação, licença maternidade, viés implícito (de que o brilhantismo é apenas masculino), estereótipos de gênero, entre outros”.  

É isso que destaca Fernanda Stanicuaski, Bióloga da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e fundadora do Parent in Science, movimento que se iniciou com o intuito de levantar a discussão sobre o impacto dos filhos na carreira científica de mulheres e homens. Além disso, luta pelo direito de incluir o período da licença-maternidade no Currículo Lattes, plataforma que funciona como uma vitrine de trabalhos já realizados por pesquisadores em todo o país.

“A gente precisa de tempo para cuidar dos filhos e de tempo para produzir. A sociedade não aceita que a mulher escolha não ter filhos, mas ao mesmo tempo crítica e não dá apoio. O que a gente pode fazer sobre determinados assuntos é mostrar o impacto da maternidade na área científica”, relata a bióloga em entrevista para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em 2020. Na ocasião, ela destacou que já perdeu o prazo de um edital, pois estava de licença-maternidade, e disse que a sociedade não está preparada para entender a vida pessoal das mulheres.

Os efeitos dessa disparidade de gênero se refletem nos resultados de uma pesquisa realizada entre abril e maio de 2020 pelo Parent In Science com cerca de 15 mil cientistas, entre discentes, pós-doutorandos e docentes, que responderam um levantamento sobre o impacto da pandemia na produtividade de cientistas no Brasil. Entre os docentes, quase 70% dos homens afirmaram ter conseguido submeter artigos científicos como o planejado, durante o período de isolamento social. No entanto, este número cai para menos de 50% das mulheres.
Quando analisados os dados acima por gênero e parentalidade, considerando pessoas que conseguiram trabalhar remotamente, constata-se que 36% de homens sem filhos e 32,8% de mulheres na mesma condição conseguiram atuar de maneira que consideram satisfatória. Em relação aos pais e mães, a pesquisa relata que 17,4% dos homens foram bem-sucedidos no trabalho remoto, contra apenas 9,9% das mulheres.

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) publicou, nesta semana, o levantamento “As dificuldades das mulheres chefes de família no mercado de trabalho”. O estudo mostra, em caráter estatístico, a disparidade entre os rendimentos de homens e mulheres em diversos cenários, incluindo quando um dos dois está na chefia da família. O resultado reflete a realidade das mulheres quando precisam atuar no mercado de trabalho ao mesmo tempo que assumem a liderança familiar, realidade presente também entre as professoras do ensino superior.

Para o Dieese, a partir dos papéis atribuídos a homens e mulheres, negros e negras, desenham-se as desigualdades e as relações de poder, seja econômico, sexual ou político. E o caminho para a mudança passa por refazer pactos, reforçar políticas transversais de igualdade de gênero, garantir igualdade de oportunidades no mercado de trabalho, reduzir a desigualdade econômica e aumentar o número de mulheres em posição de liderança, entre outras ações. É preciso que o país cresça e gere renda e emprego de qualidade, mas é necessário também enfrentar as desigualdades de gênero e raça/cor e que as mulheres tenham mais voz na sociedade, via negociação coletiva e políticas públicas.

Fontes: https://www.abrafi.org.br/index.php/site/noticiasnovo/ver/4373/educacao-superior

https://www.museudavida.fiocruz.br/index.php/noticias/1488-como-as-maes-cientistas-estao-lidando-com-a-pandemia-durante-a-quarentena

https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2021/03/na-pos-graduacao-mulheres-sao-maioria-entre-estudantes-mas-minoria-entre-docentes.shtml

https://www.dieese.org.br/boletimespecial/2023/mulheres2023.pdf