14/04/2021
O Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana – SINPES, denunciará ao Ministério Público e ao Ministério Público do Trabalho, a iniciativa da Reitoria da UniCesumar de Maringá em distribuir aos seus professores e professoras um “kit” composto por um frasco de polivitamínico, com 60 cápsulas e uma caixa do vermífugo ivermectina com quatro comprimidos, ou seja, o famoso e controverso “Kit Covid”.
De acordo com comunicado interno encaminhado a todos os professores do Campus de Maringá, o kit, que começou a ser distribuído no último dia 07 e será entregue aos que estão trabalhando presencialmente.
“A entrega do kit por parte da Instituição não se caracteriza como recomendação de uso, e sim, uma facilidade oferecida àqueles que desejam. O uso com propósitos e dosagem diferentes daquele indicado na bula deve ser feito somente com orientação de um médico de sua confiança”, ressalta o comunicado da Reitoria do campus da Unicesumar de Maringá, resguardando-se precariamente de eventuais providências judiciais e extrajudiciais contra a execrável iniciativa. Como é consenso que até mesmo o uso com a dosagem indicada na bula pode ser prejudicial, o Sinpes entende que essa observação não atenua a gravidade da conduta patronal.
A UniCesumar, que oferta o curso de Medicina, publicou recentemente o estudo de duas graduandas que refuta a eficácia do tratamento contra a Covid com remédios como ivermectina e hidroxicloroquina. O artigo foi publicado pelas estudantes Heloisa Picolotto Oliveira e Stephany Paola de Souza em outubro de 2020: “Apesar dos esforços aplicados em todo o mundo à procura de uma droga terapêutica contra o SARS-CoV-2, até o momento nenhum tratamento eficaz e seguro foi descoberto. Vale ressaltar que, apesar do recente surgimento da doença, sua rápida disseminação, contágio e mortalidade a torna preocupante”, destaca trecho do documento.
Segundo a Associação Médica Brasileira (AMB), os medicamentos do Kit Covid não têm eficácia contra a doença. “Reafirmamos que, infelizmente, medicações como hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da covid-19, quer seja na prevenção, na fase inicial ou nas fases avançadas dessa doença, sendo que, portanto, a utilização desses fármacos deve ser banida”, diz texto do boletim do Comitê Extraordinário de Monitoramento da Covid-19, assinado por 54 sociedades científicas das mais diferentes especialidades e as 27 associações médicas estaduais.
Defendido pelo presidente Jair Bolsonaro como estratégia de combate ao coronavírus, o chamado “kit covid” ou “tratamento precoce”, na verdade, contribui para aumentar o número de mortes de pacientes graves, disseram à BBC News Brasil diretores de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de hospitais de referência.
Movimentos em prol do “tratamento precoce” têm ganhado força principalmente nos últimos meses. Em meados de março, um grupo chamado “Médicos pela Vida”, que contém profissionais de diferentes especialidades e promove a procura pelo tratamento precoce, espalhou outdoors incentivando esse tratamento em dez bairros de Curitiba. Prefeitura Municipal e Ministério Público ordenaram que as peças publicitárias fossem retiradas.
No mesmo mês, a capital ganhou uma iniciativa chamada “Sociedade Contra a Covid” que é promovida pelo Programa de Voluntariado Paranaense (Provopar) e tem, destacado em um de seus materiais de divulgação a entrega de “kits de tratamento precoce de forma gratuita”. Tal iniciativa preocupou inclusive a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) que enviou uma “Notícia de Fato” ao Ministério Público Paranaense. Na denúncia, a ABJD destaca a falta de comprovação científica dos medicamentos que compõem o kit contra a Covid e também os riscos de efeitos colaterais causados por eles na saúde dos pacientes.
Quem, infelizmente conheceu de perto os efeitos colaterais de medicamentos como cloroquina e ivermectina, foi Luiz Antônio Leprevost, vice-presidente da Associação Comercial do Paraná e pai do deputado Ney Leprevost (PSD) e do vereador Alexandre Leprevost (SD). Luiz faleceu no dia 09/04 por complicações da Covid-19. Ele tratava uma hepatite medicamentosa, contraída possivelmente após o uso de medicamentos sem eficácia para a covid-19, o chamado “kit covid”, segundo esclarecimentos prestados pelos seus familiares.
Diante da gravidade da atitude da Unicesumar, o Sinpes denunciará essa conduta perante o Ministério Público e o Ministério Público do Trabalho com o objetivo de buscar uma retratação dessa instituição de ensino superior em relação aos empregados que já receberam o material, bem como evitar que o mesmo seja encaminhado a professores e auxiliares de administração escolar de Curitiba, local em que a mesma atua. Afinal, a distribuição de remédios sem comprovação científica coloca em risco a saúde dos docentes e demais empregados assim como dá de ombros para a ciência e para a produção científica de seus próprios acadêmicos.
O Sinpes entrou em contato com a Assessoria de Imprensa da Unicesumar para pedir uma posição da universidade diante dos fatos trazidos neste texto. Não recebemos resposta.
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